quarta-feira, 24 de março de 2010

O miradouro de San Nicolás

Lá do alto, onde um frenesim de pessoas enchia uma espécie de praça, olhava-se uma cidade que se estendia em tons de castanho. Ouviam-se risos, guitarras, e caixas de instrumentos abertas apelavam ao donativo. Muitos sentavam-se num longo muro, com certeza feito para melhor se mirar a paisagem, outros preferiam ficar de pé a tirar fotografias. Acomodados no chão aproveitavam para conversar e partilhar um charro.
Dificilmente uma tarde de Sexta-feira poderia ser mais tranquila por isso a ida àquela esplanada fez todo o sentido. Respirava-se ar puro e quando os dois ciganos da mesa ao lado começaram a tocar abriu-se um sorriso geral. Palmas improvisadas acompanhavam o flamenco que saía daqueles corpos. Depois a colecta final. Gente descarada e feliz, comentou-se.
Com mais coisas para sentir, ainda houve tempo para olhar de novo as caras, os edifícios. A seguir iniciou-se a descida com a certeza de que há sítios onde tem que se voltar.

domingo, 21 de março de 2010

Com um brilhozinho nos olhos

Eu sei que foram breves minutos e que a conversa foi de circunstância. Que não consegui dizer nada com jeito nem expressar a importância da ocasião. Tenho também a noção de que o momento pareceu banal e sem significado. Mas, porra, era ele que ali estava: fonte de fascínios, de ilusões.
De mim já se não recordará, por todos os motivos e mais algum. Ficam as fotografias para eternizar o momento, quase tanto quanto a memória de um simples seguidor.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Mar de Inverno

Depois do aguaceiro desci à praia. Do dia triste nada mais se esperava que um lento entardecer. Por isso, desci devagar: contornando a rua torcida, sentindo o vento de frente. Avistei o mar ao longe e apressei o passo. Algumas pessoas olhavam-no junto ao muro e foi aí que parei. Vi cores e violência, senti respeito e pequenez.
Recuei uns metros para me sentar. Aguardei por um café. Também o dono da esplanada espreitava as ondas enquanto lamentava o fraco negócio. “O tempo não nos ajuda mas há coisas que não têm preço ”, acabou por dizer.
Aproximei-me de novo e só vi o que interessava. Por momentos esqueci as construções aberrantes no topo da falésia ou os letreiros em inglês de bares concebidos em estilo colonial. Concentrei-me num verde-escuro pouco visto e nas vagas que chocavam contra alguns dos barcos de pesca. Senti vergonha de, durante meses, ter virado costas àquilo. É injusto dizer que não ao mar só porque se lá não pode entrar.