sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

31 de Dezembro

Um brinde ao dia de que já ninguém quer saber.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Telepatia

Como se explicam as coisas?
É certo que a cada hora a ciência galga caminho e encurta espaço ao misticismo. A natureza, essa, vai-se deixando destapar. E de tal forma sabe o que faz, que o permite, certa da eternidade de alguns dos seus segredos. Por isso os esotéricos terem sempre lugar, por isso a investigação ser para sempre.
As coisas acontecem. O pensamento simultâneo entre dois seres distantes, por exemplo, síncrono e cruzado, deixa qualquer um a pensar no seu porquê. Sem que um só argumento razoável possa ser invocado, estremecem, por momentos, os firmes pilares da física. Talvez um dia a matemática explique coisas destas e se calculem cargas ionizadas a percorrer o ar. Por agora, resta um respirar suspenso antes do pensamento final. A coincidência é o último argumento do cientista.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Regresso

Regresso de viagem por território hostil.
Nisto, de idas e voltas, ressalta a vontade de ficar por aqui. É que do lado de lá, do frio e sobre a inadaptação óbvia, pouco há a dizer.
Sou de onde estou, de um lugar com vista para o mundo.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Amanhã

As palavras são capazes de tudo, até de iludir quem as procura. Às vezes, quando mais são precisas, fogem, ausentam-se, deixando desamparado pobre caçador. Só resta desistir. Por agora.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

15 horas

- Que dia é hoje?
- Não é.
- Não é?
- Amanhã será dia, hoje não é.
- Hoje não é dia. Então chamamos-lhe o quê?
- O nome será importante? Fica-te pela inutilidade da coisa.
- O teu problema é esse, ou vês tudo ou não vês nada.
- Se pensares um bocadinho, percebes porquê.
- Se pensar um bocadinho, não te percebo.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

24º DNCD - NATO vs Arcade Fire

Um clip da banda ou uma não resposta esclarecedora?
Certo, isto chega.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

100 anos

Fica a figura de uma mulher seminua como símbolo arrojado do avanço civilizacional e a certeza de ter havido gente moderna há um século mesmo para os dias de hoje. Pela coisa pública e dignidade mínima, contra o atraso e a escuridão: viva a República!

domingo, 26 de setembro de 2010

Ela

O fascínio do lugar ainda o invadia.
Vinte anos feitos, tinha ainda frescas convicções por amadurecer. Por isso, quando entrou na festa, levava toda a ilusão da descoberta, mais que confirmada quando lá entrou. Via as pessoas e tudo o resto e sorria porque nunca tinha visto nada assim.
Estava nisto quando a viu pela primeira vez.
Alguém os apresentou e falaram um pouco. Seguiram concertos e aperceberam-se dos gostos comuns. Depois falaram de política e discordaram: ela irredutível, ele seguindo por outro lado. Mas compreenderam-se e ele, pelo menos, pensou nela toda a noite.
O dia seguinte acordou, viram-se e sorriram.
Uma chuva mansa começou a cair na altura da grande dança. Todos saltavam, cada vez mais, à medida que a chuva aumentava de intensidade. Ninguém se importava. Todos eufóricos, eles também.
Depois abrigaram-se e, sentados, esperaram por quem queriam ver. Cantaram baixinho ”vou morrer em Zanzibar”.
O temporal piorou e a festa acabou pouco tempo depois. Tinham que se despedir e disseram adeus. Assim, sem nada mais.
A imagem dela seguiu-o por muito tempo. Era ela mas não se voltaram a ver.
O ano passado cruzaram-se. Nas mesmas circunstâncias, no mesmo sítio. Olharam-se e conheceram-se, falaram um pouco, seguiram caminho. Da mesma forma, sete anos depois. Assim, sem nada mais.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

O caminho e dois pés

Do chão já pisado ressaltam experiências. Opções óbvias contrariadas, outras seguidas só porque sim e muitas coisas boas.
No dia em que chegar o cartão de identidade, talvez se ganhe a convicção que falta e o pó que se vislumbra na estrada não abrande o andamento.
Hoje, este poderia ser o resumo de qualquer coisa. Talvez até viesse a ser um salto rumo ao que aí vem.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

O hábito de aqui vir

Adiou-se, não se perdeu.
Acrescente-se: a conveniência original mantém-se.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

José Saramago

Respeito. Pelo que disse, pela forma como o fez. Não nascerão mais linhas novas mas a obra é para a vida.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Para ler um dia

Assim que algum vento lhe corria a face, sentia um ânimo suplementar. Daí aquele sorriso, mesmo que contido. Finais de tarde refrescantes faziam-lhe bem e se tinha que levar algum pensamento mais longe, aproveita aquelas alturas. Hoje, muitos anos depois, relembra esse tempo que, apesar da natural nostalgia, não hesita em afastar.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Destinos ou destino

O sentido das coisas procura-se por aí.

quarta-feira, 24 de março de 2010

O miradouro de San Nicolás

Lá do alto, onde um frenesim de pessoas enchia uma espécie de praça, olhava-se uma cidade que se estendia em tons de castanho. Ouviam-se risos, guitarras, e caixas de instrumentos abertas apelavam ao donativo. Muitos sentavam-se num longo muro, com certeza feito para melhor se mirar a paisagem, outros preferiam ficar de pé a tirar fotografias. Acomodados no chão aproveitavam para conversar e partilhar um charro.
Dificilmente uma tarde de Sexta-feira poderia ser mais tranquila por isso a ida àquela esplanada fez todo o sentido. Respirava-se ar puro e quando os dois ciganos da mesa ao lado começaram a tocar abriu-se um sorriso geral. Palmas improvisadas acompanhavam o flamenco que saía daqueles corpos. Depois a colecta final. Gente descarada e feliz, comentou-se.
Com mais coisas para sentir, ainda houve tempo para olhar de novo as caras, os edifícios. A seguir iniciou-se a descida com a certeza de que há sítios onde tem que se voltar.

domingo, 21 de março de 2010

Com um brilhozinho nos olhos

Eu sei que foram breves minutos e que a conversa foi de circunstância. Que não consegui dizer nada com jeito nem expressar a importância da ocasião. Tenho também a noção de que o momento pareceu banal e sem significado. Mas, porra, era ele que ali estava: fonte de fascínios, de ilusões.
De mim já se não recordará, por todos os motivos e mais algum. Ficam as fotografias para eternizar o momento, quase tanto quanto a memória de um simples seguidor.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Mar de Inverno

Depois do aguaceiro desci à praia. Do dia triste nada mais se esperava que um lento entardecer. Por isso, desci devagar: contornando a rua torcida, sentindo o vento de frente. Avistei o mar ao longe e apressei o passo. Algumas pessoas olhavam-no junto ao muro e foi aí que parei. Vi cores e violência, senti respeito e pequenez.
Recuei uns metros para me sentar. Aguardei por um café. Também o dono da esplanada espreitava as ondas enquanto lamentava o fraco negócio. “O tempo não nos ajuda mas há coisas que não têm preço ”, acabou por dizer.
Aproximei-me de novo e só vi o que interessava. Por momentos esqueci as construções aberrantes no topo da falésia ou os letreiros em inglês de bares concebidos em estilo colonial. Concentrei-me num verde-escuro pouco visto e nas vagas que chocavam contra alguns dos barcos de pesca. Senti vergonha de, durante meses, ter virado costas àquilo. É injusto dizer que não ao mar só porque se lá não pode entrar.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

23º DNCD - Dois pontos vs reticências

Sinais, deixemo-los à sua sorte. Que enuncie o primeiro, que interrompa o segundo. Prenunciem-se, sugiram! Quem sabe, até, se encontrem na mesma frase.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

As viagens e as pessoas

Corajosos contam as suas histórias. Descrevem-nas em conversas, passam-nas para livro. Seguem de mochila e na descrição das coisas emocionam-se: pela sensação dos lugares, pelo gosto aos iguais. Já se não contam os sinais que apontam ao mundo. Aquele livro foi só mais um apelo.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Ele

Ele seguia em passo lento. Descontraído, olhava as pessoas mas também os edifícios que ia deixando para trás. Naquele momento, apenas o que via interessava e o aspecto geral da cidade era o suficiente para o deixar feliz. Fixou o olhar no velho que coxeava e compreendeu que a fachada daquele edifício antigo mereceria um restauro. Por isso não voltou à tarde apaixonada do dia anterior nem recordou o livro há pouco terminado que numa noite fria o fez chorar. Continuou. Saboreou o rio e não sentiu qualquer orgulho profissional, parou na mercearia e atrasou o telefonema que a família aguardava. Já com pouca luz, teve a noção que chegaria tarde aos ensaios. Mesmo assim, e já certo do raspanete, sentou-se e partilhou um banco de jardim. Quando, dali a uma semana, estivesse do outro lado do mundo, talvez viesse a pensar nos amigos que por cá deixava e nas noites de copos por uns dias adiadas. Agora, fechava os olhos e respondia à pergunta da criança que o fitava: “sim, está tudo bem”.