terça-feira, 1 de novembro de 2011

Dias em roxo

Seguia caminho, respondendo com acenos tímidos a um ou outro cumprimento disfarçado. Mas não me desviava. Insistia naquele jeito de andar aparentemente certo, mesmo que sem a menor convicção. Seguia tranquilo, sem pressas, e nisto, entre dois passos, uma cor invulgar saltou para a estrada. Vi-a e parei. Disse-lhe olá e fiquei à conversa. Cor quente esta, que também se deixou ficar. Conhecemo-nos, falámos, voltámos no dia seguinte.
Todos os processos de descoberta serão diferentes. Este também o foi, rápido e bordado a mistério. Mas à medida que a luz foi aumentando, aquela cor, tão certa e definida, no limite do visível, deu lugar a outras. A determinada altura, à minha vista, perfilavam, já, todas as cores vizinhas do espectro.
Dias passaram naquela estrada. Num fim de tarde, de uma praça percorrida, imergia um amarelo raro. Uma voz e uma guitarra enchiam-na de música, braços teciam bolas de sabão que a transformam num lugar mágico. Atentas, quatro mãos uniam-se enquanto escutavam os sons, enquanto olhavam para cima e viam uma bola de sabão reflectir um sentimento crescente.
O tempo acompanha o passo. Vê-se pó nos carreiros, aquele que tantas vezes esbate o brilho. Mas a cor original sobressai. E exibe diariamente a tonalidade que a permite adjectivar com mais de cinquenta palavras bonitas. Por isso tem sido assim, dias que começam e acabam numa cor, percorrendo, no entretanto, todas as outras. A música segue a compasso, tatuada em dois corpos. Tem sido assim, que seja assim.