quarta-feira, 3 de março de 2010

Mar de Inverno

Depois do aguaceiro desci à praia. Do dia triste nada mais se esperava que um lento entardecer. Por isso, desci devagar: contornando a rua torcida, sentindo o vento de frente. Avistei o mar ao longe e apressei o passo. Algumas pessoas olhavam-no junto ao muro e foi aí que parei. Vi cores e violência, senti respeito e pequenez.
Recuei uns metros para me sentar. Aguardei por um café. Também o dono da esplanada espreitava as ondas enquanto lamentava o fraco negócio. “O tempo não nos ajuda mas há coisas que não têm preço ”, acabou por dizer.
Aproximei-me de novo e só vi o que interessava. Por momentos esqueci as construções aberrantes no topo da falésia ou os letreiros em inglês de bares concebidos em estilo colonial. Concentrei-me num verde-escuro pouco visto e nas vagas que chocavam contra alguns dos barcos de pesca. Senti vergonha de, durante meses, ter virado costas àquilo. É injusto dizer que não ao mar só porque se lá não pode entrar.

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